Quem escolhe um esporte sabe que um dia pode acontecer aquilo que mais tememos, nos machucar praticanto a atividade que mais gostamos. Com a escalada não é diferente. Muitos movimentos repetitivos, treinamentos de força, movimentações novas a cada momento... tudo pode contribuir se o seu corpo não está devidamente preparado.
Minha primeira lesão quando comecei a escalar em 2008 foi no cotovelo, a clássica epicondilite. Depois, em um campeonato, caí sem estabilidade e torci o tornozelo. Fora isso sempre foram coisas mais contidas, um mal jeito no ombro, no outro tornozelo, uma fisgada no quadril, uma pequena estirada na perna e assim fui seguindo. Um dia, já forçando meus dedos, rompi parcialmente uma polia, demorou 2 meses para que ela ficasse inteira de novo e foi, praticamente, a minha lesão mais séria até então.
Epicondilite remediada com tensor em 2008. Foto: Cláudio Brisighello
Alguns anos se passam (e olha que nem são muitos) e o corpo vai progredindo com o desenvolvimento da escalada, vamos cada vez apertando mais forte. Eu escolhi inconscientemente um estilo de escalada que dependia muito dos meus dedos, sempre com a desculpa que por conta do meu tamanho (1,58m) eu tinha de me jogar nas agarras para alcançá-las e como sou leve, eles aguentariam o tranco. Muito mais simples pensar assim do que trabalhar o corpo como um todo. Porém, hoje sinto o reflexo desta escolha: pequenas artroses nos dedos das duas mãos, que me impedem de morder qualquer agarra de pega aberta, além de um desgaste na lombar de outrora, coisa postural - certamente de anos sentada no computador e uso de salto alto 24h quando trabalhava em escritório - Ah sim, existiu este tempo.
Quando a gente senta para refletir as escolhas, percebe que nem sempre o caminho mais curto é o melhor. Estou tentando reaprender a escalar agora para preservar os meus dedos, focando no corpo todo, aprendendo a tensionar meus outros músculos para conseguir estruturar uma pega consciente. A idade também se torna uma amiga, nos dando consciência corporal e nos ensinando a ouvir melhor as nossas dores, determinando os limites e a hora de forçar melhorias.
A escalada é uma ferramenta incrível para nosso amadurecer pessoal, sou muito grata por isto, trabalhando meus problemas de forma consciente e mantendo o foco no objetivo maior que é poder escalar para sempre! Sem quantidade nem dificuldade, apenas escalar.
Beleza interior :-)
Caso algum escalador se identifique com o meu problema de dor nas juntas dos dedos, eu recomendo este artigo (em inglês) da revista americana Rock and Ice. Ele mostrou-se bem efetivo para meu problema, sendo os principais fatores controlar o inchaço, escalar leve até a recuperação total (utilizo esparadrapo para limitar os movimentos) e fortalecimento dos dedos com a reeducação da pega, além da construção de um core. Fiquei um mês parada na fase crítica de dor e voltei a escalar aos poucos. Agora que estou em uma fase estável, comecei a fazer dead hangs básicos, muitas vezes com os pés apoiados, e exercícios de fortalecimento de core.
Acima de tudo, fortaleça a sua mente e aprenda com os possíveis erros que aparecem no caminho sabendo que aceitá-los vai te fazer um escalador muito melhor.
(E a consulta de um médico é sempre indicada, antes de mais nada!)
Boas escaladas!!!
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