A Nova Zelândia com seus cenários épicos (vide a trilogia do filme Senhor dos Anéis), é também um local onde a cultura do chá viveu através de seus jardins de chás e a plantação do mesmo, carregando uma história de persistência, a qual conheceremos hoje.
Destaque para o chá da Nova Zelândia na revista Grower
Um pouco de história
O primeiro contato da Nova Zelândia com o chá foi no fim do século 18 com as rotas comerciais, onde o chá chinês chegou em seu território. No século seguinte, os missionários britânicos trouxeram em definitivo esta bebida que por escolha da população, se tornou a favorita do país por muitos anos (hoje o café se tornou muito popular, diminuindo o consumo do chá).
Waiata Tropical Gardens. Foto: Biblioteca Nacional da Nova Zelândia
As mudanças sociais que ocorriam no país foram acompanhadas pela cultura do chá. Um lugar com tradição da "culinária de forno" encontrou no chá um perfeito complemento. As mulheres daquele tempo não tinham a liberdade como nos dias de hoje e praticamente ficavam em casa, realizando pequenos encontros com outras mulheres em seus lares. Aliando os quitutes caseiros (bolos, biscoitos, etc.) e o chá, muitos piqueniques foram realizados e muitos horários específicos para cada tipo de chá foram consagrados (chá da manhã, chá da tarde, pausa do chá durante o trabalho, etc. - até durante a guerra os soldados faziam seu momento do chá). Logo, com a criação dos jardins de chás, as mulheres podiam participar da sociedade de forma aberta, tendo um local ao ar livre como forma de entretenimento (alguns famosos jardins da época: Vauxhall Gardens em Dunedin, Cremorne e Cokers’s Gardens em Christchurch, Wilkinson Tea Garden em Wellington e Waiata Tropical Gardens em Auckland). E este foi apenas o primeiro passo antes da criação das casas de chá no século 20, onde a população feminina era dominante.
Casa de chá The D.I.C. em Wellington, 1928. Foto: nzhistory.net.nz
Soldados neozelandeses em uma pausa para o chá na Primeira Guerra Mundial. Foto: nzhistory.net.nz
Piquenique utilizando o Thermette, invenção neozelandesa de John Hart, que tem a capacidade de esquentar
água para 12 xícaras. Foto: teara.govt.nz
água para 12 xícaras. Foto: teara.govt.nz
As plantações de chá na Nova Zelândia
Sendo a Nova Zelândia um país de cultura agrária (enraizada nos nativos maoris), nada mais natural que houvesse o interesse no plantio da Camellia sinensis (a planta do chá). Após a baixa do cultivo do tabaco em 1970, os fazendeiros neozelandeses investiram nessa nova empreitada. A "Companhia de Chá da Nova Zelândia" foi criada pela cooperativa de 100 fazendeiros da região de Motueka que infelizmente perceberam em pouco tempo que este investimento não daria o retorno desejado pelas mudanças na demanda do mercado mundial comparado com a sua presente produção. Poucos anos depois, os japoneses se interessariam pela plantação quase abandonada dos agora apenas 23 fazendeiros, e fariam um trato: seria necessário exterminar todas as plantas de chá existentes no local (para não haver polinizações indesejadas) e implantar o cultivar japonês Yabukita que atenderia o mercado nipônico. As sementes japonesas foram plantadas em 1981 e apenas 10 anos depois houve a primeira colheita. Poucos anos depois os fazendeiros viram o clima do país impossibilitar a continuação dessa variedade quando geadas destruíram as primeiras colheitas de temporadas e a intensidade do sol da região queimara as folhas da planta, frustando o desejo de um chá de coloração verde para um liquor amarelado.
Variedade plantada em Motueka. Foto: purangi.co.nz
Enquanto isso, na Ilha do Norte, Robert Evans havia coletado diversas espécies de Camellia sinensis (cerca de 63 tipos) encontradas em diversos lugares no país (antes da extinção proposta pelos japoneses) e vindas de fora também, para estudos e pesquisas no intuito de facilitar o futuro cultivo da planta na região. Assim foi criado a Coleção Chás de Purangi, que permanece em pesquisa até os dias de hoje.
Chega o fim do ano de 2009 e o primeiro chá de qualidade é finalmente comercializado na Nova Zelândia: Zealong. A plantação de propriedade de Tzu Chen e seu filho Victor foi iniciada em 1996, em Waikato, e tratada com muita paciência até que finalmente estivesse estabilizada. As plantas vieram de Taiwan e muita mão de obra utilizada nesta fazenda também vem de lá, incluindo o Mestre de Chás Yu. O know-how dos taiwaneses que ganhou espaço pela falta de mão de obra local, resultou em chás de grande qualidade, dando destaque ao oolong (não por coincidência, especialidade de Taiwan).
* Este artigo é o fruto de um trabalho de pesquisa séria, que me toma bastante tempo e que faço com o maior prazer. Caso você queira reproduzí-lo na íntegra ou fazer alguma citação do seu conteúdo, por favor, entre em contato e nunca se esqueça de colocar os créditos para o meu site.
Agradeço pela consideração.
Querida Yuri
ResponderExcluirViajei no tempo com sua pesquisa. Muito interessante! Ainda bem que haverá continuação.
Beijo grande, Aline
Aline,
Excluirmuito obrigada pela mensagem! Realmente a história por si só nos envolve... como as coisas passam e mudam.
Um beijo grande!
Yuri